
Investimento recorde em 2024. É assim que a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) tem apresentado seus números, celebrando mais de R$ 1,3 bilhão em lucros e R$ 2,17 bilhões em aportes financeiros. Mas a realidade que bate à porta de milhares de mineiros e mineiras é bem diferente: desabastecimento, água imprópria para consumo, esgoto a céu aberto, redes sem manutenção, rios contaminados e processos judiciais contra a empresa.
Foi esse o cenário denunciado por prefeitos, vereadores e vice-prefeitos de diversas regiões durante audiência pública realizada na quarta-feira (8/5), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O encontro, solicitado pelo deputado estadual Dr. Jean Freire, teve como foco os serviços prestados pela Copasa e pela Copanor — subsidiária que deveria atender os municípios mais pobres do estado.
Entre os problemas mais citados estão o desabastecimento prolongado, como o que ocorreu em Araçuaí durante o Carnaval deste ano, quando o município chegou a ficar cinco dias sem água. Também foi destaque a péssima qualidade da água que chega às casas dos moradores, quando chega.
No distrito de Estrela, em Jordânia, por exemplo, a população tem enfrentado problemas de pele devido à água distribuída pela Copanor. Segundo o vereador Marcus Veloso, a empresa se nega a tratar a água do rio e fornece água de um poço artesiano. “A água era salgada quando a Copanor perfurou o poço e começou a estragar os eletrodomésticos das pessoas. Mesmo com o processo de dessalinização, a água continua imprópria para consumo e tem causado lesões na pele”, relatou. Diante do descaso, moradores buscam água em nascentes diariamente, inclusive para tomar banho.
O vice-prefeito de Almenara, Reginaldo Chaves, afirmou que há pelo menos 20 ações do município contra a Copasa. Uma delas é uma Ação Civil Pública (ACP), proposta pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), exigindo que a empresa substitua toda a tubulação com amianto usada no abastecimento de água. O amianto é uma substância cancerígena proibida no Brasil desde 2017, cujo banimento é recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
Em Padre Paraíso, o vereador Geraldo Oliveira denunciou o desrespeito da Copanor, que destrói o calçamento das ruas durante as obras e abandona os trechos danificados, sem qualquer reparo. Já o prefeito de Itamarandiba, Pedro Afonso, relatou que o município ficou sem abastecimento por vários dias em março, devido à demora absurda na substituição de uma bomba.
As lideranças também foram unânimes nas críticas ao projeto “Águas dos Vales”, apresentado pelo Governo de Minas como uma Parceria Público-Privada (PPP) para melhorar o abastecimento nas regiões mais vulneráveis. Para os presentes, trata-se de uma tentativa do Estado de se eximir de sua responsabilidade e preparar terreno para a privatização da empresa.
“Não é por falta de dinheiro. É por um projeto de governo que escolhe precarizar o serviço público, gerar insatisfação e depois empurrar a privatização como única saída. É disso que se trata: desmontar o que é público para entregar ao setor privado aquilo que deveria ser direito do povo”, concluiu Dr. Jean.

Encaminhamentos e próximos passos
A audiência teve como encaminhamentos cobranças ao Governo de Minas, à Copasa e à Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (ARSAE), exigindo mais investimentos, fiscalização efetiva e respeito à população mineira.
Dr. Jean Freire afirmou que continuará acompanhando o tema e cobrando providências. Entre os próximos passos está o envio de requerimentos para visitas técnicas às cidades denunciadas e a solicitação de um relatório completo à ARSAE sobre a fiscalização nos últimos anos. Além disso, será cobrada da Copasa a apresentação de um plano emergencial para resolver os problemas mais urgentes.
“Não podemos aceitar que a água, um direito essencial à vida, seja tratada como mercadoria. Água é dignidade, é saúde, é vida. E o Estado tem o dever de garantir esse direito com responsabilidade e respeito ao povo mineiro”, finalizou o deputado.
Assessoria de Comunicação